Surpreendidos por um Rei diferente

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir.

Todos falavam bem dele, e estavam admirados com as palavras de graça que saíam de seus lábios. Mas perguntavam: Não é este o filho de José?” (Lucas 4:18-22)

“Depois de ver o sinal miraculoso que Jesus tinha realizado, o povo começou a dizer: Sem dúvida este é o Profeta que devia vir ao mundo. Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se novamente sozinho para o monte” (João 6:14,15).

Em continuidade à nossa reflexão da semana passada, vimos que muita gente não havia compreendido quem Jesus era e nem a forma como Deus iria restaurar a Sua criação.

Enquanto um grupo de pessoas do primeiro século viviam em meio a revoluções nacionalistas, esperando a vinda de um rei militar, outros reagiam de maneira oposta, escondendo-se no deserto para orar e estudas as Escrituras.

Essas duas formas de esperar a vinda do Messias contrariava a vocação de povo de Deus e Jesus se opôs às duas.

Jesus estava anunciando a chegada de um Reino diferente. Ele demonstrava como esse Reino seria implantado, mas muita gente não compreendia. Pessoas em curadas, recebiam o perdão de seus pecados quando o poder da nova criação alcançava suas vidas moral e espiritual com a calorosa certeza do amor de Deus. Pessoas que haviam estado no fundo econômica, social, moral e fisicamente, repentinamente viam sua vida ser vida de cabaça para baixo. Por onde Jesus passasse, havia festa.

Mas tudo aquilo estava perturbando a ordem vigente –  religiosa, política e econômica. Os poderes do mundo estavam abalados. Por isso, muita gente se opôs a ele. Até mesmo seus amigos íntimos não entendiam o que Jesus estava fazendo (João 6:64-67).

Porém, diante de tanto mal-entendido, Jesus jamais perdeu a sua vocação. Ele sabia de tudo que deveria fazer para resgatar seu povo, para restaurar a Sua criação.

O povo esperava um novo êxodo. Uma repetição daquele evento quando os israelitas eram escravos no Egito., Mas agora eles tinham Jesus.

Muitos profetas haviam dito que um dia Deus voltaria a fazer algo semelhante. As pessoas estavam esperando que isso acontecesse logo. Mas agora, elas tinham Jesus.

O povo esperava um tempo de justiça e de paz. As Escrituras haviam falado de um tempo em que o lobo habitaria com o cordeiro, as montanhas destilariam vinho suave e a terra se encheria do conhecimento e da glória do único e verdadeiro Deus, como as águas cobrem o mar (Isaías 11:6-9). Mas agora, eles tinham Jesus.

Toda essa notícia deixava o povo intrigado. Em um momento, no terceiro dia após a morte de Jesus, dois de seus amigos íntimos explicavam com tristeza a um estranho que eles haviam esperado que Jesus fosse o redentor de Israel. O problema é que Ele havia sido crucificado; então, afinal de contas, Jesus não poderia ter sido esse redentor. Eles provavelmente estavam enganados.

João Batista também ficou intrigado com a notícia a cerca de Jesus. Ele chegou a pensar que estivera enganado ao ouvir falar do que Jesus estava fazendo. Naquele tempo, chegou a enviar mensageiro a ele: “você é realmente o Messias? Haverá, talvez, alguém que virá depois de você e realmente fará o resgate?” (paráfrase de Mateus 11:3).

Outros amigos próximos de Jesus, João e Tiago, disputaram sobre quem seria mais importante no Reino de Jesus.

Assim, tudo isso mostra que as pessoas não estavam entendendo Jesus e nem o Seu Reino. Mas Jesus não deixou eles sem resposta. A João Batista, Ele disse “veja o que está acontecendo e tire as suas conclusões” (Mateus 11:4-6). A Tiago e João: “os governantes do mundo fazem as coisas de uma maneira, mas nós as fazemos de outra. Os governantes comuns as fazem por meio de um poder comum. Eles exaltam a si mesmos e abrem o caminho à sua frente por meio de ameaças e assédio moral. Nós o fazemos, disse Ele, amando e servindo” (Marcos 10:42-45). Era assim que o Reino deveria ser, prosseguiu Jesus. “Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10:45).

A Boa Notícia de Jesus que a igreja do primeiro século estava anunciando não se tratava apenas de Deus se tornar Rei, por meio de Jesus e do que Ele fez, mas que a realeza de Deus é de um tipo diferente de realeza. Há um tipo diferente de poder, que é o poder do Evangelho – o poder anunciado pelo Evangelho, o poder exercido pelo Evangelho. Não é o poder da força bruta, nem da argumentação superior, mas de algo que penetra muito profundamente em todas as áreas da vida humana. Os primeiros cristãos o chamaram de poder do ágape. Nossa palavra moderna amor sequer chega perto do que eles queriam dizer com isso. Mas teremos de usá-la, no momento, como um sinalizador de um poder enorme, multidimensional e totalmente abrangente, que transformou a vida das pessoas no século primeiro e continua a fazê-lo hoje.

Por Emerson Cardoso

Referência Bibliográfica:

WHIGHT, N. T. Simplesmente Boas Novas: Por que o Evangelho é uma notícia e o que a torna boa. Tradução Idiomas e Cia/Cláudio Chagas. Brasília: Chara Editora, 2016.

Questões para reflexão

  1. Você já se sentiu rejeitado pelos seus familiares e amigos próximos? Relacione a sua experiência com a de Jesus em Nazaré (Lucas 4:14-30).
  2. Por que as pessoas de Nazaré tiveram dificuldade para aceitarem a Jesus?
  3. Como você lida com o sentimento de rejeição?
  4. No texto de João 6:2, uma grande multidão seguia a Jesus. O que eles pensavam a respeito dele?
  5. No texto de João 6:66, muitos abandonam a Jesus. O que eles agora pensavam a respeito dele?
  6. Você conhece alguém que deixou de seguir a Jesus? O que motivou isso?

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