Na semana passada aprofundamos um pouco mais a nossa compreensão sobre o jejum que agrada a Deus. Vimos que jejuar é abrir mão do bom pelo melhor. Hoje, vamos ver o jejum como um exercício de “negar a si mesmo”.
Abrir mão de si mesmo não é uma tarefa fácil, mas é o que deve ser feito. Deus te convida para negar a si mesmo e deixar Jesus tomar posse como Senhor de sua vida.
Precisamos treinar em nos desapegar de nós mesmos, isso é algo que temos de lembrar diariamente. O jejum é esse exercício de treinamento, que praticado regularmente com entendimento nos capacita a negar a nós mesmos.
Pedro e os demais discípulos de Jesus estavam no mar e uma grande tempestade veio. A Bíblia nos diz que os discípulos estavam com medo, eles temiam por suas vidas. Naquele momento, eles ficaram com mais medo ainda, porque eles viram o que parecia a eles ser um fantasma andando sobre a água, vindo na direção deles. Quando a figura se aproximou, Pedro viu que não era um fantasma, mas era Jesus. Então Pedro pediu ao Senhor que lhe permitisse chegar a ele sobre a água. Pedro saiu do barco e caminhou sobre as águas em direção a Jesus. Pedro teve fé para abandonar o barco e ir ao encontro de Jesus. Todos nós temos os nossos barcos. Nós temos essas coisas que estamos segurando e nos recusamos a deixar, no entanto, para podermos chegar a Jesus, devemos deixar “essas coisas”. O que é que hoje está impedindo você de renunciar a si mesmo? É o medo do desconhecido? É um medo do que outros possam pensar de você? Talvez alguns nunca mudarão porque estão muito preocupados com o que os outros pensam deles. O que te impede de renunciar a si mesmo?
Certo rapaz saiu do Brasil Colonial para estudar e trabalhar na Europa com o propósito de ser bem sucedido. Depois de vários anos de trabalho duro acumulou muitas riquezas. Aquele rapaz se apaixonou por seu tesouro porque viu nele algo muito maior que apenas o valor do ouro, ele via a realização de seus sonhos, esperanças e aspirações. Ele sabia que aquele tesouro era a chave de sua “vida boa”. Certo dia, ele reuniu tudo o que possuía em um baú com 100 kg de ouro e partiu em um navio de volta para o Brasil. Chegando próximo a costa brasileira, o navio bateu em um recife e começou a fundar. Então, aquele rapaz agarrou o seu baú pensando que seria capaz de chegar à praia com ele. Não passou muito tempo e ele percebeu que se continuasse a agarrar aquilo, ele não seria capaz de chegar à praia. Aquilo que mais desejava estava agora fazendo ele enfrentar a morte. Relutante, o rapaz deixou o baú afundar e começou a nadar para a praia.
Nossa história se parece com a desse rapaz? Talvez não pelo ouro, mas por aquilo que acaba tomando o lugar de Deus em nossa vida.
Jesus firmou categoricamente que “se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23). Ficamos um pouco desconfortáveis quando lemos sobre negarmos a nós mesmos e levar a nossa cruz. Isso não parece muito atraente. O convite para ser um cristão é totalmente livre, mas também nos chama para que possamos nos afastar dos “controles”.
Mas o que significa “negar a si mesmo”? Primeiramente, você precisa saber que o nosso Deus veio salvar pessoas, e que Ele não nos submente a um “treinamento forçado” para mudar a nossa identidade, como nos filmes “Soldado Universal” e “A Identidade Bourne”.
Em segundo lugar, você precisa saber que estava preso em um sistema de escravidão chamado Pecado (Romanos 7:14). Em terceiro lugar, que o carcereiro que te mantinha preso era você mesmo (Romanos 7:23). Mas Jesus te libertou dessa escravidão (João 8:36; Romanos 6:18) quando você o tornou Senhor de sua vida, certo? (Colossenses 3:24; Marcos 2:28).
Negar a si mesmo é uma questão de Senhorio. Quem é o Senhor da sua vida? Talvez você diga que Jesus é o Senhor de sua vida. Mas se Ele realmente é, você deve morrer para si mesmo. Se Jesus é o Senhor, então isso significa que você não é mais o senhor de sua própria vida.
Existe um famoso poema intitulado “Invictus”, e nele o autor diz, “Eu sou o dono do meu destino, eu sou o capitão da minha alma” (HENLEY, 1988).
Muitos de nós têm aceitado esta filosofia de que somos o mestre de nossas vidas. Gostamos de estar no controle. A maioria das pessoas prefere estar no controle de uma situação do que confiar a alguém o controle dela. Isso não é bom e nem é qualidade. Precisamos aprender a permitir que Jesus seja o mestre de nosso destino e o capitão da nossa alma. Talvez alguns sintam como se fosse uma violação das suas liberdades deixar de lado a si mesmos e deixar Jesus tomar o controle. Talvez achem que isto é sinal de alguém que é fraco e vulnerável. Mas negar a si mesmo é atitude só para pessoas fortes (2 Coríntios 12:10). É viver em liberdade de fato (Gálatas 5:1, 13).
O Apóstolo Pedro disse: “Vivam como pessoas livres, mas não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de Deus” (1 Pedro 2:16). De sorte que o mau uso da liberdade faz o caminho inverso de “negar a si mesmo” e o torna carcereiro de você mesmo e até inimigo da cruz de Cristo(Filipenses 3:18,19).
O jejum é um exercício de auto negação. Negar temporariamente as necessidades de seu estômago ou de alguma coisa terrena vai te dar melhores condições de negar o seu orgulho, suas preocupações, sua ansiedade, amargura, ressentimento, cobiça e demais traços negativos da sua velha natureza. Enfim, a prática do jejum te tornará mais forte para “negar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir a Cristo”.
“Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20).
Jesus diz: “Tome sua cruz”. Era costume entre os romanos que o condenado à morte tinha de carregar pessoalmente o meio de sua execução até o lugar do suplício. Tomar sua cruz sobre si quer dizer tomar firme e decididamente na mão o meio de execução do seu próprio “eu”. Cada um tem sua cruz particular, que significa para ele a morte. Para uma pessoa pode ser a convivência de um parente, vizinho ou colegas que significam a morte do “eu” dele. Para outro pode ser um trabalho com dificuldades que significam a morte para seu “eu”. Para outra pessoa, ainda, pode ser necessidades físicas que o incomodam diariamente. Ou ainda pode ser seus superiores injustos, ou subordinados rebeldes. Negar a si mesmo na ótica de Deus é o meio de executar o nosso “eu”.
Em lugar da vida, Jesus traz a morte, a morte mais dolorosa e amarga, não uma morte qualquer, a morte do “eu egocêntrico”. Todavia, essa morte do “eu egocêntrico” autoritário e teimoso é o único caminho para a vida, para a vida verdadeira em Jesus.
Vejamos mais uma ilustração para encerrar a nossa reflexão de hoje: Um homem comprou uma passagem de navio. Ele arrumou suas coisas, e não se esqueceu de levar alguns biscoitos e bolachas, e se preparou para a longa viagem de navio. Ele está muito feliz por estar a bordo, mas ele olhava com inveja para as refeições que os outros passageiros mais ricos comiam. Ele só comia seus biscoitos, de vez em quando. Passados muitos dias, quase terminando a viagem, o comandante percebeu o homem sentado comendo seus biscoitos, enquanto os outros passageiros comiam as refeições na sala de jantar. O comissário disse ao homem que quando ele comprou a passagem, tudo estava incluído. Ele estava ocupado comendo seus biscoitos, quando poderia comer refeições maravilhosamente preparadas.
Se você está “a bordo desse navio” precisará saber que negar a si mesmo é como deixar os “biscoitos e as bolachas” e assentar-se na mesa do Rei e se deliciar das iguarias do Céu.
Você precisa saber ainda que negar a si mesmo é mais que uma negação! É se render a Jesus e dizer a Ele: “toma a direção da minha vida; seja o mestre de meu destino e o capitão da minha alma; seja o Senhor da minha vida”.
Por Emerson Cardoso
Para refletir:
- O que significa “negar a si mesmo” para você? Cite exemplos.
- Em que sentido o jejum se relaciona com o “negar a si mesmo”?
- O carcereiro que te mantinha preso era você mesmo (Romanos 7:23). Como você entende isso?
- O Apóstolo Pedro deixou o barco para ir ao encontro de Jesus (Mateus 14:24-33). E você, deixou alguma coisa? Existe algo que ainda te prende e que te impede de negar a si mesmo? Você pode compartilhar com esse grupo para que oremos por você?
- Em que sentido as práticas de “negar a si mesmo” e “tomar a sua cruz” se relacionam? O que significa a sua cruz?
- Se Jesus é o Senhor da sua vida, então você negou a si mesmo. Como você entende isso?