O Jejum e a Bíblia

Introdução

A nossa nova natureza foi formada pelo Espírito Santo, que habita em nós (2 Timóteo 1:14; Tiago 4:5; Efésios 2:22). Contudo, nosso corpo ainda é terreno e possui inclinação para as “coisas daqui da terra”, lícitas e ilícitas. Por isso, às vezes, nos esquecemos das “coisas do céu” por estarmos tão ligados às “coisas da terra” (Colossenses 3:2).

O jejum é uma recomendação bíblica, um exercício espiritual que nos ajuda a nos manter conectados às “coisas do céu”.

Apesar de ter vindo do céu (João 6:38), Jesus jejuou (Mateus 4:2) e espera que jejuemos também (Mateus 9:15). No estudo de hoje veremos o que a Bíblia diz sobre o jejum.

1. O que é o jejum da Bíblia?

A origem da palavra no hebraico significa “cobrir a boca”. A mesma palavra no grego, nesteia, significa “abstinência voluntária de alimento” (Lucas 2:37; Atos 14:23). Em um sentido mais amplo, jejuar é abster-se de alguma “coisa da terra” (motivos materiais) pelas “coisas do céu” (motivos espirituais).

O jejum é a humilhação (aflição) da alma (Salmos 35:13). É negar a sua própria vontade e entregar-se à vontade de Deus. É humilhar a sua vontade sujeitando-a, subjugando-a a Deus. É abster-se do símbolo do “Pão do Céu” (alimento material), pela essência, pelo próprio “Pão do Céu” (alimento espiritual). É ter fome e sede de Deus (Salmos 42:1-2). É abrir mão do bom pelo melhor. É mais do que negar a satisfação do corpo físico, é se deleitar em Deus (Salmos 37:4). O jejum é uma forma de alimentar a fé (Mateus 17:19-20).

Encontramos na Bíblia referências sobre um dia instituído para o jejum – o Dia da Expiação (Levítico 23:27), que também ficou conhecido como “o dia do jejum” (Jeremias 36:6) e ao qual Paulo se referiu como “o jejum” (Atos 27:9). Os fariseus tinham o hábito de jejuar duas vezes por semana (Lucas 18:12), mas Jesus e seus discípulos não o faziam (Lucas 5:33-35).

Apesar de não haver na Bíblia uma ordenança para que jejuemos, ao considerarmos o ensino de Jesus sobre o jejum, não há como negar que o Mestre espera que jejuemos (Mateus 6:16-18). Jesus jejuou (Mateus 4:2), os líderes da igreja jejuavam (Atos 13:1, 2; 14:23) e as gerações seguintes da igreja também jejuavam.

Contudo, jejuar pode ser uma prática vazia se for feita de maneira errada (Isaías 58:3-5). Por outro lado, se for feito corretamente, pelos motivos certos, será uma bênção (Isaías 58:8-12).

2. Por que jejuamos?

Alguns acham que o jejum é como uma “varinha de condão”, como um “amuleto mágico” que resolve suas causas por si mesmo. Nós, porém, quando jejuamos não devemos crer no “jejum”, e sim em Deus. A propósito, o jejum não muda a Deus. Ele é o mesmo antes, durante e depois do jejum. Mas o jejum mudará você. Ele vai quebrantar seu coração, tornando-o mais sensível ao Espírito de Deus. Pois um coração contrito Deus não despreza (Salmo 51:17). O jejum deixará nosso espírito atento, pois mortifica a “carne” e aflige a alma (Salmos 35:13).

Depois de ser questionado sobre esse assunto, Jesus ensina sobre o porquê jejuar:

“E ninguém deita vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres, e perder-se-á o vinho e também os odres; mas deita-se vinho novo em odres novos” (Marcos 2:22)

O vinho novo é o Espírito Santo derramado em nosso corpo, simbolizado pelo odre. O jejum é para “renovar” nosso corpo (o odre) no processo de mortificação da “carne” (Romanos 8:13).

Apesar do propósito central do jejum ser a mortificação da “carne”, a Bíblia lista outros motivos como:

  • No Antigo Testamento: consagração (Números 6:3, 4); Arrependimento de pecados (I Samuel 7:6); Luto (2 Samuel 1:12; 3:35); Aflição (2 Samuel 12:16-23; 2 Crônicas 20:3); Buscando proteção (Esdras 8:21-23; Ester 4:16); Intercessão (Daniel 9:3; 10:2, 3).
  • Nos Evangelhos: Preparação para batalha espiritual (Mateus 17:21); Estar com o Senhor (Lucas 2:37); Preparar-se para o ministério (Lucas 4:1, 2).
  • Em Atos dos Apóstolos:
  • Ministrar ao Senhor (Atos 13:2); Para escolher e enviar obreiros (Atos 13:3); Estabelecer presbíteros (Atos 14:23).
  • Nas Epístolas (2 Coríntios 6:3-5; 11:23-27)

3. Como jejuar?

O Jejum do povo de Deus no Antigo Testamento foi reprovado porque jejuavam de modo errado (Isaías 58:2-5). Jesus reprovou o jejum dos fariseus por fazê-lo com ostentação religiosa (Mateus 6:16-18). No mesmo texto Ele recomenda que lavemos o rosto, penteamos o cabelo etc., para não demonstrar uma “cara de piedade”.

Depois de entender o propósito do jejum, devemos estabelecer o tipo de jejum a ser praticado: parcial, normal ou absoluto. Depois, estabelecemos a duração do jejum: uma parte do dia, um dia, 3 dias, 7 dias, 14 dias, 21 dias, 40 dias. Por fim, estabelecemos o objetivo do Jejum.

Quanto à forma, o jejum pode ser regular, ocasional ou convocado.

O jejum do tipo parcial é aquele onde se abstém de certos tipos de alimentos, como no caso de Daniel (Daniel 10:2, 3).

O jejum normal é a abstinência de alimentos, mas com a ingestão de água, como no caso de Jesus (Mateus 4:2). Entendemos ser esse o tipo mais propício para os jejuns regulares, como o de um dia.

O jejum do tipo absoluto é a abstinência de tudo, inclusive da água, apesar dela não ser alimento. Na Bíblia encontramos poucos exemplos de tipo de jejum, considerando o limite máximo de 3 dias. Os exemplos de Moisés (Êxodo 34:28) e de Elias (1 Reis 19:8) são de jejuns sobrenaturais, pois humanamente são impossíveis. Devemos cuidar do corpo ao jejuar e não agredi-lo, porque nossa luta é contra a “carne” (natureza e impulsos) e não contra o nosso corpo.

Quanto ao objetivo para o jejum é bom estabelecer um objetivo de cada vez para manter o foco. Tome nota em um diário ou cadernos de oração. Demarque uma parte para anotações de seus jejuns e outra para suas orações.

Quando tiver decidido o tipo, o tempo e o objetivo, apresente-os a Deus em oração. Durante o jejum estabeleça tempo para orar (no início e o fim), ler a Bíblia (leia antes de orar, pois sem base bíblica a oração são palavras vazias) e meditar na Palavra. Assuma atitude de fé, crendo que Deus vai agir/responder; mantenha base firme na Palavra; não espere uma emergência ou crise para jejuar; testemunhe o resultado de seu jejum.

Conclusão

O jejum é um exercício espiritual do livre-arbítrio que demonstra a entrega da nossa vontade ao Senhor. Ele mudará você à medida que a experiência com Deus for fortalecendo seu espírito e mortificando a sua “carne”.

Na próxima semana estudaremos jejum como a fome e a sede de Deus. Que o Senhor seja contigo e te guie nesta prática!

Rev. Hernandes Dias Lopes (adaptado por Emerson Gomes Cardoso)

Para refletir:

  1. Qual foi o maior período que você ficou sem comer? Como se sentiu?
  2. Qual o propósito do jejum? Em que situação você acha que o jejum seria uma coisa boa para você fazer?
  3. Em que aspecto o jejum nos torna semelhantes a Jesus?
  4. O que você entende por “coisas da terra” ligadas ao nosso corpo? E por “coisas do céu” ligadas ao nosso espírito”?
  5. Em Isaías 58 o povo demonstra não ter a mesma visão de Deus sobre o jejum. Que atitudes devemos ter para apresentar a Deus um jejum aceitável?
  6. Quando devemos jejuar? Por quê?
  7. De acordo com Isaías 58, que bênçãos o Senhor nos oferece pelo jejum verdadeiro?

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