O Evangelho é uma notícia tola, escandalosa ou boa?

“Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da sabedoria humana, agradou a Deus salvar aqueles que crêem por meio da loucura da pregação. Os judeus pedem sinais miraculosos, e os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que a força do homem” (1 Coríntios 1:21-25).

Vimos na semana passada que o Evangelho de Jesus Cristo não é um conselho para experimentar algo novo. O Evangelho diz que algo aconteceu (uma notícia, não um conselho) e que o mundo era agora um lugar diferente. Uma boa notícia de algo que aconteceu e transformou tudo, independente da vontade ou escolha das pessoas. Porém, parece que nem todo mundo consegue entende-la assim. Para o judeu do primeiro século ela era uma notícia escandalosa e para os gentios (povos não judeus) ela era uma loucura. Hoje, discutiremos as razões dessas distintas interpretações do Evangelho.

Toda notícia tem uma história de fundo, um contexto. Para entendermos o Evangelho de Jesus, precisamos entender o contexto em torno dela.

Ao longo de muitos séculos o povo judeu, diferentemente dos demais povos, cria em um Deus vivo e atuante. Mas ele não era apena uma divindade local. Ele é o Criador, o Deus de todo o mundo, único e verdadeiro Deus.

Mil e quinhentos anos se passaram após a boa notícia do êxodo do Egito e a travessia do Mar Vermelho e os eventos que sucederam com a conquista de Canaã. Agora, um judeu ortodoxo de nome Paulo começa a percorrer o mundo conhecido de sua época anunciando um evangelho, a Boa Nova de Jesus: “Temos um novo Rei”.Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Coríntios 15:3,4). Jesus é o verdadeiro Filho de Deus e o Senhor do mundo, agora”.

Mesmo considerando que os judeus tinham liberdade de culto no império Romano, essa mensagem certamente era perigosa para quem anunciava e para quem a recebia. Pois, os títulos atribuídos a Jesus na mensagem do Evangelho eram os mesmos atribuídos aso imperadores romanos, como “Rei Ungido” (Messias em hebraico ou Cristo em grego), “Filho de Deus”, “Senhor do mundo”.

Tal mensagem parecia uma loucura e uma ofensa diante do complexo mundo em que Paulo vivia. Entre os judeus, sua mensagem era um escândalo. Um Messias crucificado? Eles acreditavam que o Messias derrotaria seus inimigos e não que fosse morto por eles. A crucificação é vergonhosa. Ela significa que a maldição de Deus está sobre a pessoa crucificada. Sugerir que Jesus é o escolhido de Deus, Seu ungido… isso é uma blasfêmia. A reação dos judeus piorava quando Paulo dizia que esse Messias acolheria os gentios também.

Mas a reação dos gentios (povos não judeus) ainda foi pior. Do lado de fora das sinagogas o Evangelho era recebido como uma loucura em todos os níveis.

As pessoas de Tessalônica, Filipos e Corinto sabiam perfeitamente o que um anúncio real significava: “Boas notícias (ouçam o evangelho), temos um novo imperador! Ele salvou o mundo! Ele trouxe paz e justiça a todos nós! Ele é o nosso Senhor! Ele é o filho de Deus!”. Agora, Paulos está nas ruas dessas cidades anunciando: “Boas notícias, o mundo tem um novo Senhor! Ele é o verdadeiro Filho de Deus!”. Naturalmente, as pessoas queriam saber quem era esse novo imperador que Paulo anunciava.

Então vinha a resposta: “Ele é um judeu! E foi crucificado! Seu nome é Jesus!“ Nesse momento os queixos delas caiam de incredulidade, e olhavam para Paulo tentando descobrir que bebida forte ele bebeu ou que pancada na cabeça ele levou. A crucificação era a coisa mais vergonhosa que poderia acontecer com uma pessoa naquele tempo. Então questionavam: “como um homem crucificado pode ser o Senhor do mundo, o Filho de Deus?” Isso é loucura!

“Não!” – responde Paulo. “Ele está vivo! Deus o ressuscitou dentre os mortos!”

Agora a multidão está convencida de Paulo era louco. Todos sabem que mortos não voltam à vida. Especialmente alguém crucificado por assassinos treinados como os soldados romanos.

Paulo estava dizendo que Cristo (Messias) morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras… e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Se você entender a Bíblia, tudo fará sentido. Mas aquelas pessoas não entendiam.

Paulo persiste em anunciar o Evangelho de Jesus. O único Deus verdadeiro, o Criador do mundo, planejou uma surpreendente operação de resgate para restaurar toda a criação ao seu propósito original (essa é a história de contexto onde a boa notícia se encaixa). E esse resgate já aconteceu! Jesus morreu e ressuscitou. Ele é o Messias, o Cristo. E a Bíblia de Israel diz que quando o Messias vier, será Senhor de todo o mundo. É por isso que essa é uma mensagem para todos, não apenas os judeus.

Mas quando Paulo anunciava essa mensagem e as pessoas criam, uma coisa estranha acontecia. Ele viu isso acontecer muitas e muitas vezes. Ele dizia que essa mensagem é o poder e a sabedoria de Deus (Romanos 1:16; 1 Tessalonicenses 1:5). Essa mensagem entrava nas pessoas como uma bebida quente em dia frio ou uma bebida fria em dia quente. Ela dava refrigério e conforto às pessoas. Em muitos casos curavam-nas de doenças. Elas eram transformava por se sentirem amadas. Amadas pelo Deus vivo e atuante, revelado ao mundo na pessoa de Jesus. Era como se elas fossem cegas e passagem a ver o Sol radiante, ou surdas e passagem a ouvir uma sinfonia de Mozart. Tudo agora parecia fazer sentido, a razão para elas existirem. Elas descobriam que esse Jesus, esse Messias, se torna pessoalmente presente e real para elas. Não como a construção de um mundo imaginário ou ilusório. Mas pela fé, elas podem ouvir Ele falar como alguém que está de pé ao lado delas. Esse é o poder e a sabedoria das Boas Novas de Jesus: ela transforma as pessoas que creem pela fé no anúncio do que aconteceu (morte e ressurreição de Jesus) e na garantia do que acontecerá no futuro, quando Deus será “tudo em todos” (1 Coríntios 15:28), transformando toda a Criação e criando Seu povo para uma vida nova, transformada e integral.

Por Emerson Cardoso

Referência Bibliográfica:

WHIGHT, N. T. Simplesmente Boas Novas: Por que o Evangelho é uma notícia e o que a torna boa. Tradução Idiomas e Cia/Cláudio Chagas. Brasília: Chara Editora, 2016.

Questões para reflexão

  1. Em que sentido você entende que o Evangelho de Jesus é uma notícia escandalosa para os judeus?
  2. Em que sentido você entende que o Evangelho de Jesus é uma loucura para os gentios?
  3. Considere a declaração de 1 Coríntios 15:3,4. Em que sentindo o Evangelho de Jesus pode ser compreendido e aceito.
  4. Em que consiste “o poder de Deus e a sabedoria de Deus” (1 Coríntios 1:24) relacionado ao Evangelho de Jesus? Dê exemplos.

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